Cargaleiro, Vasco Graça Moura

Oito Canções de Outono - Sequência em Contraponto, Álbum de Arte

Março 29, 2007 - None
CPS Sede

Editado em colaboração com a Fundação Manuel Cargaleiro, o Centro Português de Serigrafia apresenta no próximo dia 29 de Março, 5ª feira, pelas 19h, um majestoso álbum totalmente realizado em serigrafia. O álbum com uma tiragem de apenas 200 exemplares contém: ► Ciclo de oito poemas de Vasco Graça Moura com o título "Oito Canções de Outono" ► Criação Visual "Sequência em Contraponto" da autoria de Manuel Cargaleiro, para ilustração dos poemas, incluindo ainda, uma gravura, uma serigrafia (numeradas e assinadas) e um azulejo exclusivo pintado à mão pelo autor. O presente álbum de grande formato e extraordinária beleza plástica chama a atenção para a obra do pintor actualmente com grandes ligações a Itália onde viu ser criada, em Vietri sul Mare (Província de Salerno), em 2004, uma Fundação (que em 1999 lhe atribuiu um primeiro grande prémio internacional) com o seu nome, dedicada à sua obra cerâmica. A colecção Cargaleiro que deve envolver uma vertente pedagógica, ocupará diversos núcleos, em Castelo Branco, em Vila Velha de Ródão, no Seixal, com projecto de Siza Vieira, e na Praça de Espanha de Lisboa. Manuel Cargaleiro, nascido em 1927, radicado em Paris desde 1957, onde desenvolveu grande amizade com Vieira da Silva e Arpad Szènes, pintor e ceramista, expõe desde o início da década de 50 e afirmou-se na segunda metade do século XX como um dos maiores expoentes da abstracção lírica internacional, na linha do francês Bissière que o terá influenciado. Sobre Cargaleiro escreveu o crítico Rui Mário Gonçalves: "As cores puras da sua pintura abstracta harmonizam-se numa luminosidade homogeneizante, mas que permite salientar, preciosisticamente, alguns sinais gráficos de cor mais contrastante que se dispersam e se respondem num espaço imaginário." No presente diálogo com a poesia de Vasco Graça Moura a sua paleta abre-se em jogos de exuberante e luxuosa empatia entre as formas de uma escrita feliz e as cores, sorrisos da terra e do mar. Rubis de uma lenta visitação de prodígios, pérolas azuis, íntimas e doces substâncias, verdes folhas de um verão sereno que o ouro beija, emergem em coloridos e festivos vitrais da consciência desperta para o encantamento e a graça do visível perfumado pelos esplendores do invisível. A cor desperta sensações numa miríade de acordes fabulosos, dança das linhas no limiar da luz, pequenos milagres da criação. Quanto a Vasco Graça Moura, poeta, exegeta, antologiador da poesia de todos os tempos e brilhante tradutor recentemente dedicado à monumental obra de Dante, a sua poesia habita, numa toada musical e num fluxo caudaloso iluminado pela riqueza do vocabulário e a expressividade das imagens, os cofres cintilantes das pinturas que por sua vez as completam como se de um único corpo se tratasse. Corpo da poesia, esplêndido, alimentado pela intertextualidade com Camões ou Raúl Brandão e pelo diálogo com grandes mestre da pintura, (Giorgione, Carlos Botelho) ou perdendo-se nos labirintos do quotidiano, vibrando ao frémito dos seus pesadelos, no roteiro de cidades e espaços amados e por vezes já desencantados, entre Bruxelas, Lisboa, Veneza e a Foz do Douro, em canções breves e graves, para se libertar, puro canto e luminosa melodia, no contraponto da imagem, num secreto hino ao amor. A faceta de tradutor valeu-lhe em 1995 o Prémio “Pessoa” pela tradução de “Vita Nuova” e “Divina Comédia”. Mais recentemente, foi distinguido com o Prémio francês de poesia “Max Jacob”, pela sua obra “Uma Carta no Inverno”, de 1997 e com o Prémio “Vergílio Ferreira” 2007 na Universidade de Évora. "Canção de se amar tanto e ser amado, / diz mais palavras graves sem receio: / é nelas que me enleio / por elas gravemente libertado." Amor do visível e do invisível, da luz e do espaço, da palavra e da imagem na magnífica sinfonia de dois Mestre da cultura portuguesa do nosso tempo, que reinventam, sob o signo do mistério e da maravilha, a aventura da escrita.