Marisa Ferreira
Nov. 2, 2019

Marisa Ferreira

"O contacto frequente com a arte contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico"

Natural de Guimarães, Marisa Ferreira (n. 1983) vive e trabalha na Noruega desde 2008. A sua obra que tem uma componente de Arte Pública, foi já exibida com grande sucesso em Portugal e no estrangeiro. A criação de Marisa Ferreira é interativa e convida à participação do espectador, “obrigando-o” a assumir diversos posicionamentos no espaço.

Pela realização da nova serigrafia 3D, conversámos com a artista.

 

Que importância atribui à obra gráfica e ao múltiplo no contexto da obra?

Os trabalhos em papel, dos quais a obra gráfica faz parte, assumem um aspeto significativo, embora raramento visto, da minha prática artística. São obras que me permitem trabalhar ideias, mas diria que são uma parte única e separada da minha prática onde utilizo uma variedade de materiais de papel, desde papel milimétrico a papel gráfico, que se expandem além do desenho, colagem ou serigrafia. Geralmente são composições cromáticas que apresentam fragmentos de edifícios arquitetónicos, de forma a pensarmos a cidade como fragmento, visão mas também memória, que são por sua vez organizados segundo sequências matemáticas ou composições com um ou dois eixos de simetria.

 

Especificamente sobre esta obra, ela afirma-se pelo energético cromatismo e pelo reequacionar da posição do espetador. Como relaciona estes atributos?

Os atributos que referem não são únicos a esta obra, eu diria mesmo que eles estão presentes em todas as minhas obras. Interessa-me explorar a relação arte/corpo e arte/contexto, espaço tem sido um médio muito interessante para mim. Interessa-me por isso explorar o papel do observador no seu encontro com a minha obra, daí eu criar composições que convidam a uma experiência física e emocional da cor, cuja perceção é afetada pela posição do observador no espaço. Se pensarmos no trabalho de Josef Albers sobre cor, quando ele afirma que cor é o elemento mais relativo em arte, uma vez que nunca percecionamos cor como ela fisicamente é e que por isso posso falar acerca da cor azul (o meu azul 945, eu vejo cores em números), e podemos ter aqui vinte pessoas a pensar sobre o azul que eu mencionei e acredito vivamente que todos vamos pensar em azuis diferentes. Eu acredito que é precisamente neste momento que a minha obra deixa o campo científico e entra na esfera cultural.

 

 

A viver fora do país, integra uma nova geração de artistas de dinâmica internacional. O que mais a marcou no desenvolvimento da sua obra?

Não consigo enumerar apenas um aspeto que me tenha influenciado, pois acredito que o meu trabalho de forma direta ou indireta reflete um conjunto de vivências, experiências e partilha de conhecimento que fui desenvolvendo ao longo destes 12 anos a viver em Oslo (Noruega) e em Londres (Inglaterra). Para mim viver no estrangeiro tem sido acima de tudo uma oportunidade de aprender outros métodos de trabalho e pensar a minha prática artística através de diferentes perspetivas.

 

Detentora de várias obra públicas, de que forma a convivência direta com a arte contribui para o aperfeiçoamento da sociedade contemporânea?

A obra pública é uma grande e importante parte da minha prática artística. Ela inclui não só o objeto final, mas uma série de desenhos, maquetes e fotografias que fazem parte dum processo criativo onde procuro experimentar ideias e diversas formas de resolver os problemas que cada peça apresenta. Não sei se lhe chamaria “aperfeiçoamento” mas antes que o contacto frequente com a arte contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico tão necessário e urgente na sociedade contemporânea.