Silva Palmeira que nasceu em Santarém em 1934, pintor (galardoado (Medalha de Prata Mérite et Dévouement Français, Paris,  1997),  ceramista e escultor, expõe desde 1957 e está representado em diversas coleções nacionais e estrangeiras. Sobre o seu percurso pronunciou-se em texto de catálogo, o pintor: "Viajando por espaços (...), com paisagens profundas, onde a mulher é tema principal, cujo azul é o toque para uma linguagem eminentemente planetária, onde a poesia e a filosofia são musicalidades tonais  (...)". A mulher, o seu universo plástico e simbólico, têm portanto na sua pintura um lugar central, numa figuração de formas bem definidas  que o desenho realça bem como as cores lisas e docemente contrastantes que igualmente apresentam as suas paisagens, numa proximidade de poéticas a que foi sensível o escritor Urbano Tavares Rodrigues. Na presente serigrafia sobre tela que foi criada como outros trabalhos na mesma linha, sob a influência da gravura erótica japonesa, a estilização do feminino evocador de duas culturas, do ocidente e do oriente, envolve-nos num clima de sensualidade e erotismo e ao mesmo tempo numa misteriosa aura de beleza. A sedução feminina é representada em formas bem definidas que o desenho realça e que se interpenetram num sábio jogo visual que acentua o dinamismo da composição. Preenchidas com cores lisas e docemente contrastantes, pontuadas de pequenas e decorativas flores, com lugar para o emblemático azul, fluxo do olhar e dos sonhos que atravessam o tempo e nele brilham um instante, estas figuras tão características do universo plástico e poético do pintor enfrentam-nos no tranquilo desafio do seu olhar, em posturas lânguidas, e destacando-se sobre o fundo da moldura de um quadro sugerido em trompe l’oeil  que dilui as fronteiras entre a realidade e a ficção, entre a vida e a arte.

Maria João Fernandes
Nov2018