No Centro Português de Serigrafia (Rua dos Industriais, 6 Lisboa) com o título: “Depois da Ocultação: As Imagens”, está patente até dia 12 de Abril, uma exposição de dois álbuns de obra gráfica em homenagem a María Zambrano e de um outro de homenagem a Juan Miró, com um texto de Zambrano e uma litografia de Baruj Salinas. Um outro álbum em exposição: “Bestiaires”, reúne sete litografias do jugoslavo Vladimir Velickovic (n. 1935) acompanhando a exposição deste pintor que decorre na Galeria António Prates de Lisboa e com uma introdução do crítico francês Michel Onfray, uma edição dos Ateliers Paris Litho Uzès, França, Julho, 2007. Velickovic, arquitecto de formação deu aulas na Escola de Belas Artes de Paris (1983-2000), cidade onde vive e trabalha desde 1966. O universo trágico de Velickovic retrata no actual álbum a crueldade de uma vivência contemporânea com o seu cortejo de metáforas de um tempo devorador, de sofrimento e fatalidade da destruição e da morte. Escreve Michel Onfray: “Bestiário emblemático do humano que, ele também, morde e disfarça os efeitos nocivos graças a uma tecnologia temível.” Às trevas e ao pessimismo da estética de Velickovic contrapõem-se a claridade e a ascensional pureza do discurso da filósofa poeta María Zambrano (1904-1996) presente no álbum homenagem ao grande pintor espanhol Juan Miró (1893-1983). O álbum reproduz o texto em epígrafe a par de uma litografia do artista cubano (n. 1938), Baruj Salinas: explosão de um sol, metáfora inicial e esplêndida irradiando mil cintilações sobre um fundo de luz submersa berço de caligrafias nascentes, escritas da alma e do Cosmos em amoroso diálogo (edição de Editart, Genève, 1980). Baruj Salinas, pintor e gravador, licenciou-se em arquitectura e radicou-se em Miami e mais tarde em Barcelona, regressando em 1992 a Miami onde reside actualmente. Em Barcelona conviveu e trabalhou com artistas como Tàpies, Miró e Calder. Amigo pessoal de María Zambrano, ilustrou os seus textos em diversas ocasiões com destaque para o livro “Antes de la Ocultacion: los Mares” e dedicou-lhe duas exposições em 2004 (Miami): “Claros del Bosque” e em 2007 (Málaga): “La Mirada del que Mira”. Dédalo de escritas na mesa fluida do existir, os seus pilares azuis e rosa sobre o lilás da memória do não existir na homenagem desta vez a María Zambrano de Baruj Salinas num álbum que junta uma águaforte sua a três fragmentos da escrita do poeta, nascido em Cuba, ensaísta e autor do célebre romance “Paradiso” (1966) José Lezama Lima (1910-1976). Lezama Lima descreve uma amizade amorosa, os mistérios “da comunhão dos seres no invisível e no estelar”, a sacralização da memória, o ponto onde se esbatem as fronteiras da vida e da morte, um início antes do início. Glorificação do Ser, hino ao existir iluminado pelo halo de uma claridade divina. Centro, ponto privilegiado da existência e do pensamento, coincidência do humano e da luz em mais um álbum de homenagem desta vez do pintor, escultor e gravador construtivista espanhol Amadeo Gabino (1922-2004), a María Zambrano, com o título “El Vacío e la Belezza” que reproduz três textos em versão bilingue (espanhol/francês, tradução francesa de Marie Laffranque) do seu livro já traduzido entre nós “Claros del Bosque”: “El Centro y el Punto Privilegiado”, “El Vacío e la Belezza” e “La Visión, La Llama”. Numa tiragem de 135 exemplares, de 1984, 1985, brilha nas três gravuras, águatintas de Amadeo Gabino, um centro branco que impõe a fragilidade da sua beleza à irradiação das sombras. Estremecimento, branca fractura da noite ancestral. Uma esperança para o humano nas palavras da filósofa poeta e nas imagens que inspirou o seu discurso fulgurante e sensível. Maria João Fernandes