Pablo Picasso

Suite Lysistrata e Série 347

Março 22, 2007 - Abril 28, 2007
CPS Sede

Pablo Picasso é o nome mais emblemático da arte do século XX. O artista com maior número de obras representadas em museus de todo o mundo, sendo também a sua obra, a mais cotada e mais vendida em leilões nos últimos 10 anos. Revolucionário da arte contemporânea, da qual o seu nome se tornou quase um sinónimo, Picasso foi o criador, juntamente com Georges Braque, do Cubismo, a tendência artística mais importante como ponto de viragem do séc. XX. A sua pintura foi produzida em ciclos, cada um deles correspondendo a uma total e espectacular reinvenção da linguagem plástica, dos poéticos e românticos períodos azul (1901-1904) e rosa (1905-1907), às colagens de 1912 a 1914, às grandes figuras do período clássico dos anos 20, à fugaz influência do Surrealismo em 1926, à violência expressiva de Guernica (1937), à desarticulação brutal das suas figuras, reflectindo a agressividade da realidade contemporânea, que se seguiu a 1940, parecendo o artista reunir todas as suas extraordinárias descobertas a partir de 1945 e revelando o seu interesse quer pelos grandes Mestres do passado, quer pelas artes arcaicas e primitivas. Picasso, tal como na pintura, foi prolífero na sua obra gravada, ultrapassando as duas mil obras. Água-forte, água-tinta, ponta-seca, litogravura e gravura sobre linóleo colorido, dominou as diversas técnicas. Como observou Marina Bairrão Ruivo, “A gravura (…) traduz de maneira mais directa a personalidade criadora de Picasso, métodos, tendências, obsessões e certezas. A gravura e o desenho permitiram-lhe uma expressão rápida, dando resposta eficaz à sua impaciente criação vertiginosa. Picasso foi, sem dúvida, um dos maiores criadores gráficos de toda a História da Arte. A sua obra gravada, tal como a sua pintura, caracteriza-se pela importância, diversidade e abundância”. Suite Lysistrata (1934) O livro que deu origem à série Lysistrata deve-se à iniciativa de uma associação de bibliófilos americanos: "The Limited Edition Club" (Nova Iorque) que solicitou a Picasso a realização das ilustrações da versão inglesa de Gilbert Seldes (1930) da peça homónima do grego Aristófanes, uma comédia de 411 A. C. redigida quando a guerra entre Atenas e Esparta se arrastava há mais de vinte anos. Lysistrata líder de uma revolta feminina, incitou então as mulheres a abandonarem o leito conjugal, até que o conflito fosse resolvido e a paz voltasse a reinar. As seis águas fortes e os desenhos para as trinta e quatro litografias, traduzem perfeitamente a atmosfera do texto. O grande revolucionário voltava a uma linguagem figurativa onde a linha matisseana era protagonista, realçada pela pureza da composição e se tornava capaz, uma vez mais, de nos dar toda a medida do seu génio. Com a versatilidade e a mestria surpreendentes que o caracterizam, Picasso, com o simples recurso do traço, sugerindo ora um eloquente contorno, ora um luxuoso jogo de luz e sombras, de volumes, dá forma à esplêndida galeria das suas figuras. Série 347 (1968) Talvez com o intuito de suplantar Durer, Goya e mesmo Rembrandt, Picasso executou a maior série de obra gráfica alguma vez realizada, a série 347. Composta justamente por 347 águas-fortes, da qual veremos uma selecção no Centro Português de Serigrafia, esta série foi executada pelo artista entre 16 de Março e 5 de Outubro de 1968, numa edição de 50 exemplares. A série 347 foi apresentada pela primeira vez, no seu conjunto, no Outono de 1968, na Galeria Louise Leiris de Paris. As gravuras, de um forte erotismo, nomeadamente as que retratam os jogos de amor do pintor Rafael com a sua amante, a Fornarina (uma delas estará patente na actual exposição), foram expostas inicialmente numa sala privada da Galeria, tendo transitado posteriormente para o Art Institute de Chicago. A série comporta não apenas um intenso, extraordinário testemunho autobiográfico da maturidade do artista, que se auto-retratou em algumas delas (como em "Comédiens Ambulants Avec Autoportrait au Chapeau d'Arlequin et Combat de Coqs"), misto de diário e de fantasia, mas um testemunho de uma profundidade assombrosa sobre a sedução que pauta o destino humano, e igualmente sobre a precariedade da sua aventura neste mundo, onde os tempos parecem dialogar sob este signo.